quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Mundo Carimbado no Currículo

Sair do país é o sonho de milhares de brasileiros. Mas, esse desejo está muito além de fazer apenas uma viagem. Estudar no exterior é uma realidade cada vez mais presente na vida dos estudantes, sejam eles adolescentes, jovens ou adultos. A percepção de que uma experiência internacional de estudo é valorizada no mercado de trabalho tem feito com que cada vez mais pessoas queiram incluir o intercâmbio no currículo. Ana Paula Furlan Vianna é psicóloga da Fundação Mudes e responsável pelo recrutamento e seleção das empresas da Zona Sul do Rio de Janeiro. Segundo ela, o intercâmbio agrega à pessoa não apenas o domínio do idioma exigido no país escolhido pelo estudante, mas também mudanças no comportamento dele. "Muitas vezes, ele é um aluno mais introvertido, que não gosta de falar muito, e acaba tendo que conviver com pessoas diferentes, de culturas diferentes. Eles aprendem a lidar e conviver com as diferenças, e isso é muito válido", atenta.

Fazer intercâmbio não é garantia de conseguir um bom emprego. Afinal, nada garante que um estudante será melhor profissional que outro só por ter sido intercambista. Mas, hoje, a experiência adquirida nas viagens de estudo ou trabalho no exterior integra uma seleta lista de diferenciais na busca um lugar no mercado de trabalho, da qual também fazem parte ter um diploma de curso superior ou pós-graduação, dominar conhecimentos de informática, ter fluência em pelo menos uma língua estrangeira, saber liderar equipes e trabalhar em grupo, entre outros. "Qualquer que seja a experiência, ela será valorizada no mercado. O intercâmbio é uma delas. Mas, não existe uma solicitação por parte  de empresas de pessoas que tenham estudado ou trabalhado fora do país. Não é um requisito obrigatório mas, quem tem, se diferencia", explica a psicóloga.

Experiência contribui para desenvolver várias habilidades - Não é por acaso que fazer um intercâmbio tende a valorizar um currículo. A vivência fora do país de origem, muitas vezes sem o suporte direto da família e dos amigos, contribui para desenvolver características valorizadas hoje em dia, como flexibilidade, fácil adaptação a mudanças, melhor capacidade de comunicação, fluência maior em outro idioma, entre outras. Tudo isso torna a pessoa mais independente e pró-ativa. Para Leandro Reis, membro da comissão organizadora do Salão do Estudante, um dos mais importantes eventos de intercâmbio da América Latina, só o fato de o aluno passar a ver o Brasil sob um outro ponto de vista já acrescenta profissionalmente. Ele destaca ainda que não há nenhuma área em que um intercâmbio seja mais ou menos importante. "Se a pessoa estuda cinema ou moda no Brasil ela vai adquirir o conhecimento, vai ter seu valor. Mas se ela vai para os Estados Unidos e estuda em uma escola de Nova Iorque, por exemplo, vai ter uma bagagem muito maior, e isso é um grande aprendizado. Isso vale para todas as áreas. De qualquer forma, toda experiência é válida", explica.

Entre os tipos de intercâmbios existentes, alguns contam mais pontos para o currículo. Em geral, segundo o coordenador, os que preveem maior tempo de permanência fora do país e o acesso a um conteúdo mais amplo tendem a ser mais valorizados. "Os um diferencial, mas não têm um peso tão grande como uma graduação completa no exterior, um MBA ou curso de aperfeiçoamento". Ana Paula Furlan compartilha a ideia de que, para aqueles que ainda estão cursando o ensino superior, não há algum programa de intercâmbio ou alguma área em que isso seja mais valorizado do que outra. Segundo ela, mesmo que a pessoa, em vez de estudar, vá para trabalhar, ainda que fora de sua área de formação, a experiência á válida. O que importa é o aprendizado que o estudante adquiriu. "A pessoa volta muito diferente. Mais independente, principalmente. Isso é interessante para um bom profissional. As experiências valem mais, visto que comportamentalmente as pessoas mudam", conclui.

A dica dada por Leandro Reis é que, aqueles que têm a possibilidade de irem estudar em vez de trabalhar, façam essa opção. Mas destaca, também, a bagagem cultural adquirida em um intercâmbio, de um modo geral, independente do programa escolhido pelo estudante. "Viver em um outro país traz um amadurecimento muito grande. O importante é que a pessoa aproveite bastante o tempo que ficar no exterior. Tem gente, por exemplo, que vai estudar fora, mas não quer conhecer a cultura local. Acaba se fechando em um grupo de brasileiros, limitando o conhecimento, o aproveitamento que poderia ter", explica o coordenador do Salão do Estudante. Sem dúvida, uma dica importante para fazer do intercâmbio mais do que uma viagem de férias e permitir que a experiência resulte em algo além de belas fotos em cartões postais.

(Folha Dirigida, 15/02/2011 - Rio de Janeiro RJ - Clipping 16.02.2011 - Karla Vidal)

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