sábado, 3 de dezembro de 2011

Afagos Inocentes - Meu Livro de Estreia.



Confesso que, inicialmente, hesitei em publicar este livro que, desde 1997, já tinha escrito. Não é tão fácil falar de amor em público, porém imortalizá-lo é genial. Ouvimos, com certa frequência, que é, no mínimo, “meloso” escrever sobre o amor quando se está apaixonado. Essas palavras, por alguns anos, deixaram-me intimidado. Mas, certo dia, resolvi romper o silêncio e declarar, agora em público, o amor que, de certa forma, me “angustiou” por longos doze anos de minha vida.
As mais belas histórias são, sem dúvida, as que falam de amor. Desde a antiguidade Bíblica, passando pela Mitologia, até os dias atuais, o Cinema, a Música, a Literatura e as Artes em geral estão repletas de histórias a desaguar no oceano AMOR. Há amores que se concretizam e outros não, uns são felizes e outros nem tanto, mas são sempre amores... Quem não se lembra de Romeu e Julieta, de William Shakespeare; Capitu e Bentinho, de Machado de Assis; Simão e Tereza, de Camilo Castelo Branco; na Bíblia, o amor de Jacó e Raquel; entre tantas outras belas histórias...
Então, eu não poderia ser diferente, e nem indiferente a um sentimento tão puro, às vezes, banalizado, é verdade; mas que ainda sobrevive nos corações de muitos... Eu, por muitos anos, não acreditava no amor e no relacionamento sincero entre um homem e uma mulher. Hoje, sou mais que uma testemunha! Sei que é possível, sim, amar e ser amado nos dias atuais. Foram tantos desencontros pelo caminho que quase acreditei não mais reencontrar Silvinha. Mas o amor que nos unia era muito intenso e verdadeiro. Era um amor desprovido das amarras do preconceito. Em 2009 nos reencontramos, namoramos, noivamos e nos casamos em 9 de julho de 2011.
Hoje, vivemos a realidade de uma vida plena de satisfação, de uma vida regrada de amor, cumplicidade e companheirismo. Eu sonhei com este amor uma vida inteira... O amor, realmente, nos surpreende; o amor consegue unir corações desolados. Na vida temos de fazer escolhas, às vezes, agradáveis, outras não muito; mas o importante é que temos a possibilidade e o direito de escolha!
Para mim, é um grande privilégio compartilhar com você, caro leitor, estes singelos poemas carregados e conduzidos por tão nobre sentimento. Se você tem um amor, viva-o de forma sempre mais intensa! Se estiver à procura, saiba esperar o tempo certo, a pessoa certa... E esteja pronto (a) para viver um grande e intenso amor...

I L Tyler

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A Avaliação do ensino Superior


Os números do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) de 2010 e do Índice Geral de Cursos (IGC), recém-divulgados pelo Ministério da Educação, não trazem maiores surpresas. Em síntese, revelam que as mais conceituadas instituições públicas, confessionais e privadas mantiveram seus padrões de qualidade e que as faculdades e universidades com pior desempenho são estabelecimentos particulares que cobram mensalidades baratas e não se preocupam com a qualidade de seus cursos. O Enade é uma prova escrita aplicada anualmente a alunos ingressantes e concluintes do ensino superior. Já o IGC leva em conta, além dos resultados do Enade, a avaliação do corpo docente, das instalações físicas e do projeto pedagógico de cada instituição. O MEC também divulgou o Conceito Preliminar de Cursos (CPC), que é a nota conferida a cada curso oferecido. A avaliação do ensino superior combina assim três notas - a do desempenho dos estudantes, a do desempenho dos cursos e a do desempenho das instituições. No IGC, só 27 universidades - o equivalente a 1,47% das instituições avaliadas - conseguiram tirar a nota máxima. É um grupo seleto, do qual fazem parte as Universidades Federais do Rio de Janeiro (UFRJ), de Minas Gerais (UFMG), do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de São Paulo (Unifesp), além do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), do Instituto Militar de Engenharia, da Fundação Getúlio Vargas e da Unicamp. Esta instituição, que participou pela primeira vez das avaliações do MEC, foi a primeira classificada no Enade. O desempenho é atribuído à contratação de professores com doutorado no País e no exterior, à seleção dos alunos por vestibulares que privilegiam o mérito dos candidatos e aos investimentos na infraestrutura de ensino e pesquisa. Alegando que o modelo de avaliação do MEC não é capaz de distinguir o aluno que tem um desempenho insatisfatório e o estudante que boicota a prova por razões políticas, entregando-a em branco, a USP não se submete às avaliações.
Das 1.826 instituições classificadas por critério de qualidade no IGC, 683 receberam as notas 1 e 2 - as mais baixas numa escala que vai até 5. E, dos 2.988 cursos avaliados classificados pelo CPC, 694 - o equivalente a 23,2% do total - foram reprovados. No CPC, foram avaliadas 14 áreas de conhecimento. Dos cursos de enfermagem e odontologia, só quatro tiraram a nota máxima em cada área. Em farmácia, foram só dois cursos e em agronomia, dez. Na área de medicina, nenhum curso obteve a nota máxima. As universidades públicas mais conceituadas obtiveram o melhor desempenho nas mais variadas áreas do conhecimento. Já as instituições privadas mais bem classificadas se destacaram, basicamente, nas áreas de economia, administração e negócios. Das instituições de ensino superior que o MEC considerou inadequadas, 214 são particulares e 12 são municipais. Na avaliação de 2010, 226 faculdades e centros universitários foram reprovados pelo quarto ano consecutivo. Por isso, o governo anunciou que promoverá auditoria em 70 delas, podendo descredenciá-las caso voltem a ser reprovadas, e fiscalizar as demais com maior rigor.
Ao anunciar os resultados da avaliação do ensino superior, o MEC também anunciou que determinará o corte de 50 mil vagas nos vestibulares de cursos de saúde, administração e ciências contábeis. Trata-se de um número pequeno, considerando-se que essas áreas têm cerca de 1,1 milhão de vagas, atualmente. Além disso, quase todas as vagas a serem cortadas não estão preenchidas, por falta de candidatos. E, como lembram os especialistas do setor, apesar das ameaças de fechamento de cursos, o MEC tem sido leniente com a questão da qualidade, pois o ministro Fernando Haddad pretende usar a expansão de vagas no ensino superior como uma de suas bandeiras na campanha para a Prefeitura de São Paulo. Independentemente do modo como o MEC vai agir com relação às instituições mal avaliadas, o Enade, o IGC e o CPC são um retrato do ensino superior no País.
(Clipping 21.11.2011 - O Estado de São Paulo, 21/11/2011 - São Paulo SP)

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A MENINA QUE ODIAVA LIVROS

Pai Educador, Educador Pai


Em um bonito texto, o poeta Ferreira Goulart observou que o homem, diferente dos bichos, é muito mais do que sua realidade biológica. É também sua realidade cultural. E esta realidade não é parida, é inventada ao longo de cada vida e em cada sociedade. Em outra reflexão nos ensina o filósofo renascentista Giovanni Pico della Mirandola que na natureza somos o mais incompletos dos seres, nascemos faltando um pedaço que nunca damos conta de completar. Porém nascemos com a capacidade única de aprender e criar. Assim seguimos nos inventando sendo capazes do mais divino e do mais diabólico. Ironicamente somos muito mais do que os animais por sermos mais incompletos que eles.
Dessa nossa incompletude nasce o papel do educador. Primeiro, de nós mesmos, em nossa própria construção rumo a alguma maturidade. Depois dos próximos e dentre estes, certamente e acima de todos, de nossos filhos. É dos pais o dever maior de criar seus filhos no sentido amplo, muito além do biológico ou do sustento. O mero pai biológico é pai pela metade porque não educa seu filho. Amor paterno constata-se na prática e em grande medida traduz-se na educação e ensinamentos dados aos filhos. O pai educador é pai próximo, é quem primeiro e de maneira mais marcante ajuda na construção da realidade afetiva, cultural e ética do filho. Educação que se dá principalmente pelo olho, muito mais do que pelo discurso. Se uma imagem diz mais que mil palavras, o exemplo diz mais que milhões delas. Não há virtude sem prática da virtude. A pedagogia do “faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço” é das mais frágeis no processo de formação do caráter de um educando.
Ser educador, de seu filho ou do filho de outros, crescidos ou não, é ajudar a lapidar o bruto diamante humano. Se todo pai que não é educador é pai insuficiente, todo educador, quanto melhor educador for, mais se aproxima da figura que um bom pai deveria exercer. E nesse incrível ato de educar, uma fonte inesgotável de luz: não se lapida sem lapidar-se a si mesmo. A alegria de ensinar e de aprender é das grandes alegrias cotidianas da vida. Nosso trabalho, via de regra, mais nos motiva quando ensinamos ou aprendemos. Assim constata-se o trabalho e alegrias intermináveis de ser educador e de ser pai educador. O trabalho de educar transborda em significado, ainda que seja por vezes dos mais árduos. Esse trabalho nos torna mais virtuosos e nos alimenta o espírito com nenhum outro. Os resultados de um educador são de longuíssimo prazo, pois assim é a nossa construção. Leva literalmente uma vida. Mas depois, a transcende. Como pais e educadores, buscamos o melhor dos filhos e educandos, e assim buscamos inevitavelmente o melhor de nós. A responsabilidade dessa busca é a maior que podemos ter, pois toca o futuro, toca os filhos dos filhos dos nossos filhos. É nesse futuro longínquo onde se fundem todas as famílias que se constrói a humanidade que será. Da mesma forma, olhando para trás percebemos viver em nosso presente o futuro construído por nossos antepassados, e assim nos sentimos compelidos a honrar as virtudes deles aprendidas. Queiramos ou não, estamos apoiados em seus ombros, e deles, seremos sempre suas crianças, seus filhos, seus educandos. A sinfonia inacabada da educação e da construção humana é a grande paixão que se renova, a cada filho, a cada educando. Nessa luta estamos todos de mãos dadas, não há elo perdido. Humanidade que foi, humanidade que é, humanidade que será. Durante nossa vida, nos inventamos, individual e coletivamente, rumo aos céus ou ao inferno. Encontramos nosso significado na tentativa de sermos como indivíduos e coletividade, algo melhor do que já fomos. Que a luta siga sempre altiva rumo ao legado de um pai educador e de um educador pai: a cada filho, um ser humano melhor. Que assim caminhe a humanidade!
(Clipping 21.10.2011 - Gazeta do Povo, 14/10/2011 - Curitiba PR - O trabalho de educar transborda em significado, ainda que seja por vezes dos mais árduos. Esse trabalho nos torna mais virtuosos e nos alimenta o espírito com nenhum outro Lucas Guimarães)

Governo Desiste de Ampliar Ano Letivo, diz Secretária de Educação Básica

A secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), Maria do Pilar Lacerda, disse nesta quinta-feira(20/10), nas páginas pessoais dela no Twitter e no Facebook, que o governo desistiu da ideia de ampliar os dias letivos das escolas de educação básica. A proposta havia sido anunciada pelo ministro Fernando Haddad em setembro, como forma de ampliar o tempo de permanência dos alunos na escola. O MEC não confirma oficialmente a decisão, mas, segundo Pilar, o ministro reuniu-se com entidades que representam professores, estudantes, gestores e universidades e o consenso é que os atuais 200 dias letivos sejam mantidos. A ampliação deverá se dar pela ampliação da jornada diária. “O Legislativo receberá a proposta consensuada nessa reunião e assumida pelo MEC”, disse Pilar, sem definir qual seria o mínimo de horas-aula. Atualmente, o ano letivo tem 200 dias, com carga horária de 800 horas. O aumento de quatro para cinco horas diárias, por exemplo, ampliaria a carga horária para mil horas. Em alguns países da Europa, Ásia e até mesmo da América Latina, a jornada chega a 1,2 mil horas anuais, como no México, ou 1,1 mil horas, como na Argentina.
(Clipping 21.10.2011 - Correio Braziliense, 20/10/2011 - Brasília DF - Agência Brasil)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Fenaj Pede Votação da PEC que Restabelece Diploma de Jornalista



Dirigentes da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) pediram nesta quinta-feira ao presidente da Câmara, Marco Maia, que inclua na pauta do Plenário a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 386/09, do deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que restabelece a exigência de diploma de curso superior de Jornalismo para o exercício da profissão de jornalista. Essa exigência, que estava prevista em lei, foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal. Marco Maia afirmou que pretende marcar um período para votação de propostas de emenda à Constituição que não provoquem despesas públicas e tenham mais chance de obter acordo de lideranças. Ele pediu aos jornalistas que articulem com os líderes a inclusão dessa proposta.


(Clipping 29.03.2011- Correio Braziliense, 24/03/2011 - Brasília DF

A Autoridade do Professor


Estimado leitor, hoje vamos conhecer um pouco do pensamento de Hannah Arent, cientista política e filosofa alemã, que é considerada uma das importantes intelectuais do século XX, com forte influência na Europa e principalmente nos Estados Unidos, onde viveu até o final de sua vida, vindo a falecer em 1975. Ainda jovem, morando na Alemanha, pertencente à família judia, foi duramente perseguida pelos nazistas, tendo que emigrar para a França e posteriormente para os Estados Unidos. As questões educacionais também foram pauta nas produções e reflexões de Hannah Arent, particularmente no que se refere à autoridade do professor em sala de aula e nas discussões sociais sobre violência e racismo. A escola teria então a função de ensinar aos estudantes como o mundo é, sendo o professor a autoridade na sala de aula, para fazer essa mediação, sem que se torne um autoritário. O papel da escola seria o de apresentar ao aluno o mundo e estimular que ele seja crítico e reflexivo ao ponto de propor mudanças nas situações que estão colocadas como referências. Também  defendia que a escola, principalmente a do Ensino Fundamental, deveria ser desvinculada de questões políticas, para ela esse era um foco de discussão dos adultos. Com isso tecia críticas à educação moderna que tratava com os estudantes assuntos e temas de caráter político. Partindo dessa perspectiva, essa pensadora se colocava com forte defensora da autoridade do professor em sala de aula, onde a escola deveria ser um local de preparo e instrumentalização de saberes e conhecimentos. Outro aspecto importante no pensamento de Arent é a perspectiva de que a família deve ter uma obrigação vital no que se refere à formação da criança, sob pena de que deixe para a instituição escolar o papel de educar os filhos que colocou no mundo. A escola, neste sentido, passa a ter a função de auxiliar no desenvolvimento das potencialidades do educando, de maneira que desperte suas habilidades e concepções acerca do mundo e viver em sociedade. O entendimento de que os pais devem ser os principais responsáveis pelo processo de formação dos filhos aparece fortemente nas reflexões dessa pensadora quando trata da educação. Chamando a atenção para os perigos da ausência de reflexão e criticidade, que podem conduzir a um estado de alienação da realidade na qual encontra inserida. Outra preocupação presente nas reflexões sobre a educação consiste no abandono das tradições, defendida por Hannah Arent como um fio umbilical que possibilita estabelecer relações entre o passado e o presente. Dessa forma, a educação não pode ficar restrita à prática pedagógica escolar, mas deveria ser tratada numa amplitude que englobasse também a presença constante da família juntamente com o professor na condução do processo de ensino e aprendizagem dos alunos. Pode-se dizer que Hannah Arent defendia uma posição tradicionalista, ou seja, ao trabalhar com a formação educacional, faz parte dessa atividade a importante tarefe de abrigar e proteger o educando, para que o mesmo possa ter as condições de entender o mundo como um lugar de todos e para todos.

(Clipping 29.03.2011 - Gazeta de Cuiabá, 25/03/2011 - Cuiabá MT -Elias Januário)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O Retorno Social da Educação


O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o IPEA, realizou mais um importante estudo. Os resultados mostram que, entre os investimentos na área social, os que apresentam maior taxa de retorno para a economia são os destinados à educação. Novidade? Não, apenas ratificação daquilo que os estudiosos da educação vêm dizendo há muitos anos. Mas é importante que um órgão com a responsabilidade do IPEA confirme essa assertiva. A pesquisa denominada "Gastos com política social: alavanca para o crescimento com distribuição de renda", que utilizou dados de 2006, ao comparar diferentes tipos de gasto social, concluiu que os recursos destinados à educação são os que mais contribuem para o crescimento do país, levando em conta a quantidade de pessoas envolvidas nesse setor e os efeitos da educação sobre setores-chave da economia.

E eu acrescento, sobre o desenvolvimento das pessoas beneficiadas pela educação, que adquirem não só o passaporte para uma vida-cidadã, mas as condições para ascender social e financeiramente, porque pela educação recebem também a chave para abrir as portas do mercado de trabalho, oferecendo-lhes as oportunidades de serem úteis, produtivas e as condições para suprirem as suas necessidades básicas e de sua família. Sem falar na amplitude de horizontes que a educação proporciona. Mas, para isto, teremos que investir numa educação com o selo da qualidade, sem o que não estaremos investindo e, sim, gastando recursos que não garantem o retorno esperado. O estudo do IPEA, que levou em consideração valores destinados ao setor educacional, pela União, Estados e Municípios mostra que, cada R$1,00 aplicado em educação pública gera R$1,85 para o Produto Interno Bruto. O mesmo valor investido na área da saúde gera R$1,70. Hoje, o Brasil aplica, aproximadamente, 5% do PIB em Educação. O Plano Nacional de Educação apresentado ao Congresso, para discussão, estabelece uma meta de 7% do PIB para o setor educacional, até 2020. No segmento educacional, são empregadas cerca de 2,5 milhões de pessoas em, aproximadamente, 200 mil instituições. E são atendidas mais de 56 milhões de crianças, jovens e adultos.

Outros estudos têm mostrado que, quanto mais tempo, em média, uma população tem de estudo, maior possibilidade tem de aumentar a produtividade e, em consequência, sua riqueza e a do país. Esta é também a opinião do atual diretor do IPEA, ao comentar os resultados da pesquisa. Diz o Dr. Jorge Abrahão: "A escola forma o cidadão, que terá ampliada sua noção de cidadania e economia. Quanto mais estoque de educação a população tiver, melhores tendem a ser a remuneração e as respostas ao desenvolvimento e ao crescimento. Dependendo de como esse sistema é montado, os pais podem ir trabalhar, sabendo que seus filhos estão seguros dentro do sistema escolar".

E agora, continua o economista, "os pais estão voltando para o sistema, para se qualificarem, fazer uma graduação, pós-graduação e, com isso, ascender na carreira. Ou seja, além de gerar o PIB, hoje, gera uma possibilidade de ampliação do PIB no futuro." Mais recursos para a educação. Essa foi, sempre, uma reivindicação. Mas, para esta ampliação, é absolutamente necessário que os recursos sejam bem aplicados para melhorar a educação brasileira, para que realmente dela decorra, além de maior taxa de retorno para a economia, a melhoria da qualidade de vida, em termos de crescimento pessoal para os que dela se beneficiarem, preparando-os para o mercado de trabalho, dando-lhes instrumentos para viver e conviver na era do conhecimento, da ciência e da tecnologia.

Mais recursos para a educação devem ter em vista o crescimento pessoal e a qualificação profissional dos principais sujeitos do processo – os alunos; a melhoria da formação, dos salários e das condições das escolas onde trabalham os principais agentes da educação – os professores; a capacitação dos gestores das escolas dos sistemas de ensino básico, das instituições de ensino superior para bem aplicarem os recursos e participarem da correta execução da proposta pedagógica das unidades escolares de ensino básico e dos cursos de ensino superior, elementos–chave, para uma educação de qualidade; o acompanhamento da aplicação dos recursos e do processo de ensino-aprendizagem, pelos responsáveis pelos sistemas de ensino municipais e estaduais e pelo sistema de ensino superior. Mais recursos para uma educação de qualidade devem ter também em vista a taxa de retorno para a economia do país que esse investimento proporciona. O desafio está em conciliar crescimento econômico e justiça social.

(Folha Dirigida, 31/03/2011 - Rio de Janeiro RJ - Terezinha Saraiva - Clipping 01.04.2011)

terça-feira, 1 de março de 2011

Quando o Saber não Vem da Escola


Famílias brasileiras buscam o direito de ensinar seus filhos em casa, ao invés de mandá-los para a escola. Estima-se que, no Brasil, mais de 100 lares adotem o homeschooling, mas o número pode ser ainda maior.
 
Quem admitir que faz o homeschooling corre o risco de no dia seguinte ter um promotor de Justiça na porta de casa. Estou morrendo de medo de uma denúncia dos meus vizinhos.” A frase é de um pai que prefere educar seus filhos em casa, e não na escola, baseado no método chamado de homeschooling, que não é reconhecido no Brasil. Não há como saber quantas pessoas adotam a prática no país, mas, segundo o doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro João Malheiro, estima-se que existam ao menos 100 famílias adeptas. Porém, como os pais temem ser punidos se descobertos, esse número pode ser muito maior. Entre as motivações estão razões morais ou religiosas, problemas com experiências escolares anteriores (como o bullying) e distância entre casa e escola. Mas o principal motivo apontado pelos “homeschoolers” é a insatisfação com a qualidade do ensino oferecido pelas instituições públicas e privadas.

Evelise Maria Labatut Porti­lho, mestre e doutora em Educa­­ção pela Universidade Complu­­tense de Madri, na Espanha, reconhece que o homeschooling tem sido considerado uma alternativa pelos pais que não estão satisfeitos com a instituição escolar. Mas não vê o ensino domiciliar como a melhor opção. Para ela, a socialização de crianças e adolescentes seria o ponto mais delicado. “O convívio com outras pessoas, adultos, crianças ou jovens, é importante para a formação. A instituição escolar tem também o papel de favorecer as relações interpessoais. E conta com especialistas nas diferentes áreas, o que influencia na construção do conhecimento”, afirma.

Todas as pessoas que convivem com meus filhos dão testemunho de que eles são normais”, diz o pedagogo, professor de Filosofia e História da Educação na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Luiz Carlos Faria da Silva, que há cerca de três anos tirou da escola os filhos Lucas, 12 anos, e Júlia, 11. Ele e a mulher, a pedagoga Dayane, desistiram da educação formal por causa da insatisfação com o ensino e com os valores passados pela escola e dos relatos do filho de que estava sendo agredido por um colega.

As crianças estudam em casa, sob a tutela dos pais, mas fazem aulas externas de Matemática e Inglês, além de praticarem atividades esportivas. “Não existe problema de socialização, é só perguntar à fisioterapeuta e professora de dança da minha filha, ao mestre de Tae kwon do meu filho, à academia de natação, ao pediatra deles, aos vizinhos de prédio, à diretora da escola em que meus filhos foram submetidos a testes e a qualquer professor do meu departamento na UEM.” O caso está sendo acompanhado pela Justiça. O futuro ainda é incerto, mas já foi descartado o abandono intelectual, já que as crianças estão sendo educadas. O desempenho dos dois nos estudos é avaliado por meio de provas anuais, desenvolvidas pelo Núcleo Regional de  Edu­­cação. As crianças também devem passar por avaliações psicológicas. Segundo o pai, Lucas e Júlia podem voltar à escola aos 15 ou 17 anos, para estudos mais aprofundados.

Método internacional - Inglaterra, França, Canadá e Estados Unidos, onde estima-se que cerca de 2 milhões de crianças estudem em casa, permitem o ensino domiciliar. Nesses países, a formação acontece ao lado dos pais, ou de professores diretamente contratados por eles, com algum auxílio da internet. Segundo especialistas, um modelo semelhante poderia ser implantado no Brasil. Bastaria a comparação entre crianças da mesma idade, considerando o desempenho em provas e avaliações feitas em escolas públicas do seu distrito escolar. Testes cognitivos e entrevistas poderiam ajudar a avaliar o desempenho social e psicológico dos estudantes. “Qualquer pai no mundo é capaz de amar seu filho, dar contexto e buscar as ajudas necessárias para os conteúdos que a criança tem necessidade”, afirma o especialista em Grupos Operativos e mestre em Educação Claudio Oliver. Apesar de alguns pais praticantes do ensino domiciliar serem totalmente contra a escola, a instituição em si não é o problema, se­­gundo Oliver. “A sociedade individualista, competitiva e sectária em que vivemos, que nega a comunidade e a liberdade, é o problema. O que precisa ser discutido não é a escola, mas a sociedade enferma que ela representa e para a qual prepara”, diz.

(Gazeta do Povo, 01/03/2011 - Curitiba PR - Clipping 01.03.2011 - Adriana  Czelusniak)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Rir - Nunca é o Bastante!!!!

Falar BOM português às vezes é um perigo.

 A mocinha de família se preparou toda para ir ao ensaio de uma escola de samba.

Chegando lá, um cidadão afro descendente (o antigo negão), todo suado, banguela e com a camisa do Framengo, pede pra dançar com ela e para não ser preconceituosa ela aceita.

Mas o cidadão suava tanto que ela já não estava suportando mais!

A moça foi se afastando e disse:
- Você sua, heim?

Ele a puxou, lascou um beijo e respondeu:
- Beleza gata.... excrusive vô sê seu tamém!  É nóis!

(Recebido por e-mail)

PROFESSOR ESTÁ SEMPRE ERRADO


O material escolar mais barato que existe na praça é o professor!
Se for jovem, não tem experiência.
Se for velho, está superado.
Se não tem automóvel, é um pobre coitado.
Se tiver automóvel, chora de "barriga cheia'.
Se falar em voz alta, vive gritando.
Se falar em tom normal, ninguém escuta.
Se não falta ao colégio, é um 'Caxias'.
Se precisar faltar, é um 'turista'.
Se conversar com os outros professores, estão 'malhando' os alunos.
Se não conversar, é um desligado.
Se der muita matéria, não tem dó do aluno.
Se der pouca matéria, não prepara os alunos.
Se brincar com a turma, é metido a engraçado.
Se não brinca com a turma, é um chato.
Se chamar a atenção, é um grosso.
Se não chama a atenção, não sabe se impor.
Se a prova é longa, não dá tempo.
Se a prova é curta, tira as chances do aluno.
Se escrever muito, não explica.
Se explicar muito, o caderno não tem nada.
Se falar corretamente, ninguém entende.
Se falar a 'língua' do aluno, não tem vocabulário.
Se exigir, é rude.
Se elogiar, é debochado.
Se o aluno é reprovado, é perseguição.
Se o aluno é aprovado, deu 'mole'.
 
É, o professor está sempre errado, mas, se conseguiu ler até aqui,  agradeça a ele!
 




(Recebi por e-mail - uma amiga)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Mundo Carimbado no Currículo

Sair do país é o sonho de milhares de brasileiros. Mas, esse desejo está muito além de fazer apenas uma viagem. Estudar no exterior é uma realidade cada vez mais presente na vida dos estudantes, sejam eles adolescentes, jovens ou adultos. A percepção de que uma experiência internacional de estudo é valorizada no mercado de trabalho tem feito com que cada vez mais pessoas queiram incluir o intercâmbio no currículo. Ana Paula Furlan Vianna é psicóloga da Fundação Mudes e responsável pelo recrutamento e seleção das empresas da Zona Sul do Rio de Janeiro. Segundo ela, o intercâmbio agrega à pessoa não apenas o domínio do idioma exigido no país escolhido pelo estudante, mas também mudanças no comportamento dele. "Muitas vezes, ele é um aluno mais introvertido, que não gosta de falar muito, e acaba tendo que conviver com pessoas diferentes, de culturas diferentes. Eles aprendem a lidar e conviver com as diferenças, e isso é muito válido", atenta.

Fazer intercâmbio não é garantia de conseguir um bom emprego. Afinal, nada garante que um estudante será melhor profissional que outro só por ter sido intercambista. Mas, hoje, a experiência adquirida nas viagens de estudo ou trabalho no exterior integra uma seleta lista de diferenciais na busca um lugar no mercado de trabalho, da qual também fazem parte ter um diploma de curso superior ou pós-graduação, dominar conhecimentos de informática, ter fluência em pelo menos uma língua estrangeira, saber liderar equipes e trabalhar em grupo, entre outros. "Qualquer que seja a experiência, ela será valorizada no mercado. O intercâmbio é uma delas. Mas, não existe uma solicitação por parte  de empresas de pessoas que tenham estudado ou trabalhado fora do país. Não é um requisito obrigatório mas, quem tem, se diferencia", explica a psicóloga.

Experiência contribui para desenvolver várias habilidades - Não é por acaso que fazer um intercâmbio tende a valorizar um currículo. A vivência fora do país de origem, muitas vezes sem o suporte direto da família e dos amigos, contribui para desenvolver características valorizadas hoje em dia, como flexibilidade, fácil adaptação a mudanças, melhor capacidade de comunicação, fluência maior em outro idioma, entre outras. Tudo isso torna a pessoa mais independente e pró-ativa. Para Leandro Reis, membro da comissão organizadora do Salão do Estudante, um dos mais importantes eventos de intercâmbio da América Latina, só o fato de o aluno passar a ver o Brasil sob um outro ponto de vista já acrescenta profissionalmente. Ele destaca ainda que não há nenhuma área em que um intercâmbio seja mais ou menos importante. "Se a pessoa estuda cinema ou moda no Brasil ela vai adquirir o conhecimento, vai ter seu valor. Mas se ela vai para os Estados Unidos e estuda em uma escola de Nova Iorque, por exemplo, vai ter uma bagagem muito maior, e isso é um grande aprendizado. Isso vale para todas as áreas. De qualquer forma, toda experiência é válida", explica.

Entre os tipos de intercâmbios existentes, alguns contam mais pontos para o currículo. Em geral, segundo o coordenador, os que preveem maior tempo de permanência fora do país e o acesso a um conteúdo mais amplo tendem a ser mais valorizados. "Os um diferencial, mas não têm um peso tão grande como uma graduação completa no exterior, um MBA ou curso de aperfeiçoamento". Ana Paula Furlan compartilha a ideia de que, para aqueles que ainda estão cursando o ensino superior, não há algum programa de intercâmbio ou alguma área em que isso seja mais valorizado do que outra. Segundo ela, mesmo que a pessoa, em vez de estudar, vá para trabalhar, ainda que fora de sua área de formação, a experiência á válida. O que importa é o aprendizado que o estudante adquiriu. "A pessoa volta muito diferente. Mais independente, principalmente. Isso é interessante para um bom profissional. As experiências valem mais, visto que comportamentalmente as pessoas mudam", conclui.

A dica dada por Leandro Reis é que, aqueles que têm a possibilidade de irem estudar em vez de trabalhar, façam essa opção. Mas destaca, também, a bagagem cultural adquirida em um intercâmbio, de um modo geral, independente do programa escolhido pelo estudante. "Viver em um outro país traz um amadurecimento muito grande. O importante é que a pessoa aproveite bastante o tempo que ficar no exterior. Tem gente, por exemplo, que vai estudar fora, mas não quer conhecer a cultura local. Acaba se fechando em um grupo de brasileiros, limitando o conhecimento, o aproveitamento que poderia ter", explica o coordenador do Salão do Estudante. Sem dúvida, uma dica importante para fazer do intercâmbio mais do que uma viagem de férias e permitir que a experiência resulte em algo além de belas fotos em cartões postais.

(Folha Dirigida, 15/02/2011 - Rio de Janeiro RJ - Clipping 16.02.2011 - Karla Vidal)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Entrevista com Wanderley Quêdo, Presidente do Sinpro-Rio




"O professor não tem estímulo no setor privado"
No próximo dia 17, mais um passo da campanha salarial do magistério da rede privada da cidade do Rio será dado. Nesta data, diretores do Sindicato dos Professores do Município do Rio e Região (Sinpro-Rio) se reúnem com representantes das escolas particulares da cidade para negociações referentes à convenção coletiva deste ano. Será mais uma tentativa de negociações na busca por melhores condições salariais e de trabalho para os profissionais do magistério. Um quadro que, para o professor Wanderley Quêdo, presidente do Sinpro-Rio, não é dos mais favoráveis. Segundo ele, além de os professores da rede privada terem problemas semelhantes aos dos que atuam na rede pública, como, de maneira geral, salários abaixo da média de outras profissões com igual qualificação, ele destaca outras questões que contribuem para tornar mais complicada a situação dos que trabalham no setor privado. Entre estas dificuldades, estão a falta de incentivos para ascensão profissional, como plano de carreira, por exemplo.

"Os professores trabalham excessivamente, tanto na educação infantil, onde temos a dupla jornada, quanto na educação fundamental, ensino médio e educação superior, onde o professor não se basta em uma única escola e trabalha em dois, três colégios, e por aí vai", destaca o sindicalista. Nesta entrevista,  Wanderley Quêdo aborda outras questões como as perspectivas para a negociação das convenções coletivas deste ano para a educação básica e o ensino superior, a situação do profissional do magistério em cada um destes segmentos, dificuldades enfrentadas pelos educadores e as transformações no cenário educacional do estado, em especial, das universidades particulares. São grandes grupos financeiros, que possuem ações na bolsa, que controlam as principais instituições privadas. E as universidades que ainda não estão neste ritmo de se transformarem em Sociedades Anônimas estão se encaminhando para isto", analisa Wanderley Quêdo.

Folha Dirigida - Como está a situação do professor do ponto de vista salarial e das condições de trabalho na educação básica?
Wanderley Quêdo - Do ponto de vista salarial, a situação não é boa. Este é um problema dos professores, de um modo geral. Os pisos da categoria são baixos. Historicamente, essa é uma das grandes lutas do sindicato nas pautas de reivindicação, incluindo o aumento diferenciado para os pisos. Hoje, uma professora de educação básica, que atua no ensino fundamental, por quatro horas diárias de trabalho, ganha R$734,25. Isso para 20 horas semanais. Trata-se de um piso que consideramos muito baixo. Nós temos perseguido nos últimos três anos a política da reposição salarial pelo INPC completo, mais o ganho real. Ainda assim, temos a certeza de que só isso não vai mudar a situação do professorado.

Por que? Há uma estimativa de quantos profissionais, na cidade do Rio, encontram-se nesta situação salarial?
Cerca de 80% da categoria na rede privada do município do Rio de Janeiro trabalha com este piso de R$734,25, exceto o professor do 6º ano até o ensino médio, que ganha R$11,69 a hora/aula. Estes pisos são pagos por 80% das escolas da rede privada do Rio. Portanto, a política de reposição pelo INPC completo, que é um reajuste, mais o ganho real, é uma luta que permanecerá, mas entendemos que depois de 10 anos ela não modificou significativamente esta situação. Por isso, não basta, já que os pisos continuam baixos. Diante disso, é necessária uma política, um olhar e uma luta para que este piso tenha, pelo menos, nos próximos três anos, uma elevação diferenciada para que possamos, no mínimo passar, dos R$1 mil em 50% das escolas, daqui a três anos. Preciso que tenhamos esta compreensão e que esta luta seja abraçada pela categoria.

E no ensino superior? Quais as maiores dificuldades que os professores enfrentam?
O ensino superior já tem uma outra conformidade. Nele, nós temos a grande financeirização do setor privado da educação superior do país. O Rio de Janeiro, que possui uma das maiores redes de escolas do país, até por ter sido capital federal, possui um destaque nesta situação. No último censo, o de 2009, divulgado há poucas semanas pelo MEC, foi constatado que houve um aumento nos últimos anos de quase 50% do ensino a distância, que é um grande problema do ensino superior. A EAD entrou na pauta da educação das instituições de ensino superior privadas não para rincões, situações de difícil acesso não só físicas, mas financeiras ou, por questão de tempo. Este segmento entrou com um objetivo de lucro e de corte de custos.

Como o senhor vê este quadro?
A nossa luta é para que esta educação a distância seja regulamentada, remunerada de forma adequada e que tenha qualidade. Nós não somos contra, mas entendemos que a legislação mínima que existe precisa ser obedecida; que não existe a figura do tutor, mas do professor; que há um limite para estas questões e que tudo isso precisa ser trabalhado adequadamente. A educação superior no Brasil e Rio de Janeiro está financeirizada. São grandes grupos financeiros, que possuem ações na bolsa, que controlam as principais instituições privadas. E as universidades que ainda não estão neste ritmo de se transformarem em Sociedades Anônimas estão se encaminhando para isto. Este quadro gera uma precarização, porque a primeira coisa que as empresas fazem é cortar custos, demitir funcionários, reduzir investimentos, pesquisas, extensão e transformar a aula presencial em aula a distância. Estes são os grandes problemas da educação superior privada, além de que há os pisos irrelevantes ao trabalho, tempo de dedicação e à formação dos professores.

Quais são as reivindicações para o magistério da rede privada?
Nós mantemos as nossas campanhas institucionais. Os professores trabalham excessivamente, tanto na educação infantil, onde temos a dupla jornada, quanto na educação fundamental, ensino médio e educação superior, onde o professor não se basta em uma única escola e trabalha em dois, três colégios, e por aí vai. Professores universitários hoje, mesmo que trabalhem em uma única instituição, dão aula em cinco campi, um distante do outro. É difícil fazer tudo isso, almoçar, estudar, preparar aula e no fim, ainda estar de bem consigo mesmo. Este profissional, que não tem um local de trabalho, mas sim vários e, simultaneamente, vários turnos de trabalho, acaba cronicamente estafado e estressado. A primeira sequela é depressão, a síndrome de burnout, depois vem as outras piores, que levam até o afastamento da categoria da profissão. Não existe carreira docente na educação privada.

Por que o senhor diz isto?
No setor privado, o professor não tem estímulo algum, nem mesmo plano de carreira. Ele entra professor e sai professor. Estas campanhas buscam, então, a desnaturalização e informação da sociedade sobre as condições de vida e de trabalho do professor da educação infantil, básica e superior. O professor tem péssimas condições de vida e precárias condições de trabalho. E o somatório disso se traduz em uma qualidade de ensino muito ruim, e combina com coisas piores, como a violência que permeia a sociedade, que entra na escola e esse profissional sobrecarregado, com um ambiente precarizado, precisa também fazer outras funções, de atender pai, aluno, bancar de psicólogo e tutor. A agressão ao professor é gigantesca e o bullying também. Também temos outras campanhas, como a de unificação das férias dos professores. Como uma cidade que vai receber a Copa, as olimpíadas e outros eventos, pode ter escolas sem um calendário com o início e fim dos anos letivos concomitantes? Quando há qualquer tipo de paralisação por ordem do poder público, o professor é prejudicado. Mas quando isso ocorre, o governo se exime e diz que é um problema privado. Estas são questões fundamentais. É preciso um calendário escolar unificado para ordenar a cidade para receber esses eventos. É melhor sempre prevenir que remediar.

Este ano, o sindicato buscou antecipar as negociações. Por que?
Todos os anos nós acompanhamos sempre a nossa data-base, que é 1º de abril, tanto para a educação superior, quanto para a educação básica. Só que, com a estabilização da moeda, de uns oito anos para cá, as escolas se sentiram confortáveis porque sem o pico inflacionário, verificamos que elas passaram a se planejar com antecedência e a elaborar as planilhas em outubro, em sua maioria. Toda vez que começávamos a negociação, o sindicato patronal colocava um obstáculo, pois a planilha já havia sido fechada. Quando uma escola planeja em outubro a sua planilha, ela cobra a mensalidade reajustada em 1º de janeiro, por isso recebe de 5% a 10% de reajuste já neste mês e só paga o reajuste do professor no dia 1º de abril. Então, ela tem três meses que ela faz um caixa e se recupera de qualquer problema. Com uma economia estabilizada, há previsões muito mais fáceis de serem feitas. Calcular o reajuste dos professores e a reposição salarial deles sempre por baixo, e calcular as mensalidades sempre pelo alto significa o princípio básico da iniciativa privada: o lucro.

Esta linha de atuação partiu do próprio sindicato ou é uma orientação de âmbito mais geral?
Nós somos filiados à Confederação Nacional dos Trabalhadores dos Estabelecimentos de Ensino (Contee) e a nossa confederação fez em julho de 2010 o Seminário Nacional que orientou todos os sindicatos de professores da rede privada do Rio a anteciparem para o segundo semestre do ano, as negociações de 2011, até para acompanhar e interferir nestas planilhas. Foi o que fizemos, mas vieram as eleições e um pico na inflação, que retardaram esse processo. No entanto, isso não nos impediu de convocar os professores e avisá-los da antecipação da campanha salarial. Aprovamos em dezembro uma pré-pauta com as linhas gerais da campanha, o que nos deu autorização para em fevereiro retomarmos a negociação do patronato. Com isso, já terá saído o INPC de dezembro, que teve uma pequena queda, e o INPC de janeiro. Assim, teremos condições de nos basearmos em questões concretas. Temos uma paritária marcada para o dia 17 de fevereiro para a educação básica. Em janeiro conversamos com o sindicato patronal para iniciar as negociações para a educação superior.

Nos últimos anos, quais problemas o sindicato tem enfrentado na negociação para a Educação Básica e para o Ensino Superior?
São três grandes desafios. O primeiro foi com a própria categoria. Estamos lutando para a reeducação da categoria, para desnaturalizar as negociações coletivas. A política de reposição salarial correta, INPC completo e mais o ganho real realizada nos últimos anos, deu uma naturalização dos acordos feitos para a educação básica e superior, mas isto se reverteu com a financeirização e mercantilização dos
últimos três anos muito rapidamente. Na educação básica, a política correta já não garante mais uma melhora significativa na qualidade e no padrão de vida deste professor porque, mesmo com os ganhos reais que possam ser de 1% ao ano, para um piso de R$8,16 a hora/aula na educação fundamental e infantil, mesmo que houvesse um aumento de 10% no Rio, nos passaríamos de R$8,16 para R$8,90. Isso não implicaria em um impacto significativo na vida e na qualidade de vida do profissional da educação infantil. Esta política, por si só, já não basta, por isso contamos com a contribuição da categoria, pois precisaremos ter embates mais duros com o patronato, que é insensível em relação aos pisos baixíssimos que contrastam de uma mensalidade muito alta. Das escolas que compõem o quadro daquelas que pagam 20% acima do piso, e até mesmo 50% das escolas da rede privada do Rio, elas cobram, no mínimo, de R$500 a R$1.500 em suas mensalidades, essa é a média. Um aluno já pagaria o salário do professor, dois alunos pagam os encargos sociais dele. Por fim, com cinco alunos, se recupera todos os custos desta escola. Agora, em uma sala de aula, nunca tem cinco alunos. Tem 25, 30 e até mais.

Quais os outros desafios para a negociação?
Outro desafio é desfazer mitos que a sociedade possui. Os pais acreditam que o professor tenha três meses de férias, o que não é verdade. Em grande parte do tempo em que os alunos estão de férias, o professor está na escola. A sociedade precisa ter a consciência de que o professor trabalha em mais de uma escola e é superexplorado. Como os pais também pagam mensalidades altas, acham que o professor ganha bem. Até uma diarista hoje, por mais precarizado que seja o trabalho dela, ganha mais que uma professora formada. Com todo respeito às diaristas, pois elas tem mais que cobrar e exigir um trabalho regularizado. Os nossos grandes desafios são com o próprio professor, outro com o patronato, e em terceiro, com a sociedade.

Em 2011, o Sinpro-Rio comemora 80 anos de existência. Poderia nos fazer um balanço das contribuições e conquistas alcançadas pelo sindicato nestas oito décadas?

As primeiras conquistas feitas por este sindicato são as suas convenções coletivas de trabalho históricas, que são referências para o país. Por isso, a categoria não pode, de forma alguma, afastar-se do sindicato. Ela tem que estar nas assembleias, atos públicos e estar preparada para até mesmo paralisações e greves. A categoria tem que defender o seu patrimônio, que é o seu sindicato, as suas convenções coletivas de trabalho e a defesa da escola pública. São seus 25 mil associados que convocamos para participar da luta. Nosso interesse é recompor, na categoria, uma nova geração de professores. Temos também que preparar o sindicatos para as modificações no mundo do trabalho, a EAD por exemplo, é uma realidade e precisamos saber utilizá-la.

(Folha Dirigida, 08/02/2011 - Rio de Janeiro RJ - Michelle Bento - Clipping 09.02.2011)