segunda-feira, 4 de abril de 2011

O Retorno Social da Educação


O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o IPEA, realizou mais um importante estudo. Os resultados mostram que, entre os investimentos na área social, os que apresentam maior taxa de retorno para a economia são os destinados à educação. Novidade? Não, apenas ratificação daquilo que os estudiosos da educação vêm dizendo há muitos anos. Mas é importante que um órgão com a responsabilidade do IPEA confirme essa assertiva. A pesquisa denominada "Gastos com política social: alavanca para o crescimento com distribuição de renda", que utilizou dados de 2006, ao comparar diferentes tipos de gasto social, concluiu que os recursos destinados à educação são os que mais contribuem para o crescimento do país, levando em conta a quantidade de pessoas envolvidas nesse setor e os efeitos da educação sobre setores-chave da economia.

E eu acrescento, sobre o desenvolvimento das pessoas beneficiadas pela educação, que adquirem não só o passaporte para uma vida-cidadã, mas as condições para ascender social e financeiramente, porque pela educação recebem também a chave para abrir as portas do mercado de trabalho, oferecendo-lhes as oportunidades de serem úteis, produtivas e as condições para suprirem as suas necessidades básicas e de sua família. Sem falar na amplitude de horizontes que a educação proporciona. Mas, para isto, teremos que investir numa educação com o selo da qualidade, sem o que não estaremos investindo e, sim, gastando recursos que não garantem o retorno esperado. O estudo do IPEA, que levou em consideração valores destinados ao setor educacional, pela União, Estados e Municípios mostra que, cada R$1,00 aplicado em educação pública gera R$1,85 para o Produto Interno Bruto. O mesmo valor investido na área da saúde gera R$1,70. Hoje, o Brasil aplica, aproximadamente, 5% do PIB em Educação. O Plano Nacional de Educação apresentado ao Congresso, para discussão, estabelece uma meta de 7% do PIB para o setor educacional, até 2020. No segmento educacional, são empregadas cerca de 2,5 milhões de pessoas em, aproximadamente, 200 mil instituições. E são atendidas mais de 56 milhões de crianças, jovens e adultos.

Outros estudos têm mostrado que, quanto mais tempo, em média, uma população tem de estudo, maior possibilidade tem de aumentar a produtividade e, em consequência, sua riqueza e a do país. Esta é também a opinião do atual diretor do IPEA, ao comentar os resultados da pesquisa. Diz o Dr. Jorge Abrahão: "A escola forma o cidadão, que terá ampliada sua noção de cidadania e economia. Quanto mais estoque de educação a população tiver, melhores tendem a ser a remuneração e as respostas ao desenvolvimento e ao crescimento. Dependendo de como esse sistema é montado, os pais podem ir trabalhar, sabendo que seus filhos estão seguros dentro do sistema escolar".

E agora, continua o economista, "os pais estão voltando para o sistema, para se qualificarem, fazer uma graduação, pós-graduação e, com isso, ascender na carreira. Ou seja, além de gerar o PIB, hoje, gera uma possibilidade de ampliação do PIB no futuro." Mais recursos para a educação. Essa foi, sempre, uma reivindicação. Mas, para esta ampliação, é absolutamente necessário que os recursos sejam bem aplicados para melhorar a educação brasileira, para que realmente dela decorra, além de maior taxa de retorno para a economia, a melhoria da qualidade de vida, em termos de crescimento pessoal para os que dela se beneficiarem, preparando-os para o mercado de trabalho, dando-lhes instrumentos para viver e conviver na era do conhecimento, da ciência e da tecnologia.

Mais recursos para a educação devem ter em vista o crescimento pessoal e a qualificação profissional dos principais sujeitos do processo – os alunos; a melhoria da formação, dos salários e das condições das escolas onde trabalham os principais agentes da educação – os professores; a capacitação dos gestores das escolas dos sistemas de ensino básico, das instituições de ensino superior para bem aplicarem os recursos e participarem da correta execução da proposta pedagógica das unidades escolares de ensino básico e dos cursos de ensino superior, elementos–chave, para uma educação de qualidade; o acompanhamento da aplicação dos recursos e do processo de ensino-aprendizagem, pelos responsáveis pelos sistemas de ensino municipais e estaduais e pelo sistema de ensino superior. Mais recursos para uma educação de qualidade devem ter também em vista a taxa de retorno para a economia do país que esse investimento proporciona. O desafio está em conciliar crescimento econômico e justiça social.

(Folha Dirigida, 31/03/2011 - Rio de Janeiro RJ - Terezinha Saraiva - Clipping 01.04.2011)

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